sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Por: Estela Marques

Gargalha, ri, num riso de tormenta, 
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço. . .

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
 
É possível observar a comparação que o autor faz entre um palhaço e o seu coração, colocando o último no lugar do primeiro. Vejamos: o palhaço, vulgarmente, é posto como um personagem bobo, tolo. Cruz e Sousa coloca seu coração como um "tolo" por aceitar o "bis" de mais uma dor amorosa. Com isso, ele expressa por meio do subjetivismo e da musicalidade a sua realidade de forma imprecisa, tendo predominância da sinestesia - quando se refere aos órgãos e aos sentidos. Um exemplo do que acaba de ser escrito está no seguinte trecho: 
"(...) Pedem-se bis e um bis não se despreza! (...) E embora caias sobre o chão, fremente, 
afogado em teu sangue estuoso e quente, ri! Coração, tristíssimo palhaço." (Cruz e Sousa)

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